“Não querer mais que bem querer” e amar
ao jeito de Deus
1. O diálogo entre Jesus e Pedro que encontramos em Jo 21,
15-19 é dos mais fascinantes de toda a literatura. Acontece depois de Jesus ressuscitado
se ter apresentado aos discípulos, junto do mar de Tiberíades, ao romper da
manhã, depois da pesca abundante, e depois da refeição.
2. A primeira pergunta de Jesus a Pedro – amas-me mais do que a estes? – refere-se
a um amor prioritário. Jesus utiliza o verbo do amor de Deus: agapáo. Pedro responde com o verbo do
amor recíproco entre amigos: phileó –
sim, Senhor, tu sabes que gosto de ti.
O mesmo acontece na segunda vez. Mas, na terceira pergunta, Jesus utiliza o
verbo de Pedro – Simão, tu gostas de mim?
E Pedro continua, pela terceira vez, dizendo: tu sabes que gosto de ti! Pedro inverte, desta forma, as suas três negações
em relação a Jesus (cf. Jo 18).
3. No final, Jesus diz a Pedro: segue-me! Na passagem do verbo agapáo
ao verbo phileó, podemos acompanhar a
pedagogia de Jesus, a sua caminhada até à realidade de Pedro. Pedro está no seu
“não querer mais que bem querer”, na bela forma de se referir ao amor do nosso
poeta maior, Luís de Camões. Essa pedagogia de Jesus cura Pedro na raiz das
três negações. E serve para que Pedro o siga até ao amor prioritário e
incondicional ao jeito de Deus.
4. Jesus demonstra, desta forma, o seu amor. Abranda o seu
passo à medida do nosso. É a humildade de Deus! Só assim o amor é verdadeiro.
Jesus, mendigo de amor, garante a Pedro, como a cada um de nós: o teu desejo de
amor já é amor (cf. Ronchi e Marcolini, p. 88).
5. Com Ermes Ronchi e Marina Marcolini, digo: “No último dia
sei que, se ainda me tiver enganado mil vezes, o Senhor mil vezes me perguntará
só isto: ‘Queres-me bem?’ E terei apenas de responder mil vezes. ‘Quero-te
bem.’” (A esperança que nasce da Palavra,
Paulinas Editora, Prior Velho, 2012, p. 88).
6. Também nós, tal como Pedro e tantos ao longo dos séculos, seguimos
Jesus, em caminhada pascal, devagarinho, até à fonte, até à origem do amor, da
bondade e da vida!
Basílica dos Mártires, Lisboa, 14 abril 2013.
Frei Hermínio Araújo
