"Podemos fazer remontar a devoção às Sete Últimas Palavras de Jesus na Cruz ao século XII. Vários autores teceram um relato harmonioso da vida de Jesus, a partir dos quatro Evangelhos. Reuniram assim as suas últimas palavras na cruz, sete frases, que viriam a tornar-se tema de meditação. Estas últimas palavras foram comentadas por S. Boaventura e popularizadas pelos Franciscanos. Foram de uma importância imensa na piedade medieval tardia, e foram associadas à meditação sobre as sete chagas de Cristo, e vistas como tratamento para os Sete Pecados Capitais.
(...) A história do Cristianismo é um drama acerca das palavras e do seu significado. Da Palavra de Deus e das nossas. Começa com a Palavra, mediante a qual tudo começou a existir.(...) Quando o anjo Gabriel apareceu a Maria e lhe anunciou a concepção de Jesus, teria Maria dito Sim?(...) A vinda da Palavra depende da palavra dela.
(...) As nossas palavras transmitem vida ou morte; criam ou destroem. O clímax deste drama são as últimas palavras de Jesus na Cruz. Guardamo-las como um tesouro porque nelas está enraizada a nossa fé de que as palavras humanas têm de facto um longo alcance, tocando um destino e uma finalidade últimos.
(...)A nossa fé não é crer apenas que a existência humana tem um significado particular, mas que tem um sentido que transcende todas as nossas palavras. (...) Nestas sete últimas frases de Jesus, assistimos à última confrontação, entre palavras e silêncio, significado e absurdo, acreditando que a vitória foi alcançada."
Timothy Radcliffe in as sete últimas palavras