segunda-feira, 18 de março de 2013

Vivência espiritual de um ateu. A unidade profunda de todas as coisas.

"Essa noite,depois de jantar, saí para passear com alguns amigos naquele bosque que amávamos. Estava escuro. Caminhávamos. Pouco a pouco, as risadas acabaram, as palavras escassearam; ficava a amizade, a confiança, a presença compartida, a doçura dessa noite e de tudo[...]Eu não pensava em nada. Olhava. Escutava. Rodeado pela escuridão do bosque. A espantosa luminosidade do céu. O murmúrio silencioso do bosque: alguns ruídos nos galhos, alguns gritos de animais, o ruído mais surdo dos nossos passos[...] Tudo fazia com que o silêncio fosse mais audível. E de repente[...]o quê? Nada! Quer dizer tudo!Nenhum discurso. Nenhum sentido. Nenhuma interrogação. Só uma surpresa. Só uma evidência. Só uma felicidade que parecia infinita. Só uma paz que parecia eterna. O céu estrelado sobre minha cabeça, imenso, insondável, luminoso e nada mais em mim além desse silêncio,dessa luz, como uma vibração feliz, como uma alegria sem sujeito, sem objeto(...) nenhuma outra coisa em mim, na noite escura, além da presença deslumbrante de tudo! Paz. Uma imensa paz. simplicidade. Serenidade. Alegria."

 Comte-Sponville in El alma del ateísmo, 2006

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