16
Dói-me esta riqueza pobre,
esta riqueza podre de tão poucos,
feita da pobreza de mil e um irmãos
sem tecto e sem pão.
Dói-me esta riqueza tão cheia de nadas,
que se agarra às coisas e nelas se
esgota, insignificante.
E pedes-me que cante?…
17
Dói-me o grito abafado do irmão
que é perseguido pela sua cor,
pela sua etnia ou religião
e tem de viver escondido,
em aflição constante…
E pedes-me que cante?!
18
Dói-me o
fanatismo efervescenteque aliena e esmaga tanta gente!
O fanatismo que é cego e não quer ver,
que se impõe e a todo o custo quer vencer
sempre irracional, intolerante
E pedes-me que cante?
19
Dói-me, Senhor, a cruz que carregaste
sendo minha
e dos meus irmãos – de ontem e de
hoje.
Dói-me essa cruz enorme que abraçaste
para nos dares a Vida, a Eternidade!
Dói-me essa cruz gigante…
E Tu, Senhor, Tu pedes-me que cante!
20
Nas margens deste rio poluído
contemplo em silêncio a minha alma e
a cidade,
esta Babilónia à beira-caos,
agonizante…
e tenho de chorar, de fazer ecoar o
meu lamento!
Senhor, se queres que eu cante,
deixa que eu faça deste pranto
a harpa do meu canto.
Chegue até Ti, meu Deus,
a melodia que não sei compor
e aceita-a como gesto de louvor.
Aceita-a, Senhor!
Maria Teresa Maia Gonzalez