sexta-feira, 12 de abril de 2013

Salmo para o Século XXI ( a partir da reflexão sobre o Salmo 137)


                     16

Dói-me esta riqueza pobre,
esta riqueza podre de tão poucos,
feita da pobreza de mil e um irmãos
sem tecto e sem pão.
Dói-me esta riqueza tão cheia de nadas,
que se agarra às coisas e nelas se esgota, insignificante.
E pedes-me que cante?…


                    17

Dói-me o grito abafado do irmão
que é perseguido pela sua cor,
pela sua etnia ou religião
e tem de viver escondido,
em aflição constante…
E pedes-me que cante?!


                                                      18
                                   Dói-me o fanatismo efervescente
                                   que aliena e esmaga tanta gente!
                                   O fanatismo que é cego e não quer ver,
                                   que se impõe e a todo o custo quer vencer
                                   sempre irracional, intolerante
                                   E pedes-me que cante?
  
                                                         19

Dói-me, Senhor, a cruz que carregaste sendo minha
e dos meus irmãos – de ontem e de hoje.
Dói-me essa cruz enorme que abraçaste
para nos dares a Vida, a Eternidade!
Dói-me essa cruz gigante…
E Tu, Senhor, Tu pedes-me que cante!
  
                      20

Nas margens deste rio poluído
contemplo em silêncio a minha alma e a cidade,
esta Babilónia à beira-caos, agonizante…
e tenho de chorar, de fazer ecoar o meu lamento!

Senhor, se queres que eu cante,
deixa que eu faça deste pranto
a harpa do meu canto.

Chegue até Ti, meu Deus,
a melodia que não sei compor
e aceita-a como gesto de louvor.
Aceita-a, Senhor!



                                                            Maria Teresa Maia Gonzalez







quinta-feira, 11 de abril de 2013

Salmo para o Século XXI ( a partir da reflexão sobre o Salmo 137)


                               11

Dói-me o coração das árvores ardidas,
das águas poluídas dos rios e dos mares;
tanto desperdício e tanto lixo
que aumenta, aumenta sempre
e a passo de gigante!
E Tu pedes-me que cante?...

                              12

Dói-me a desolação no rosto dos desempregados,
dos sem-abrigo e dos refugiados.
Dói-me a fome de pão e a fome de Amor
de quem não Te conhece ou Te esqueceu, Senhor.
Dói-me esta fome tão contagiante…
E pedes-me que cante?...

                               13

Dói-me a alma magoada da mulher
das ruas mais obscuras da cidade;
da mulher que é  usada e depois desprezada,
que já nem reconhece a própria dignidade
e espera um sonho que a resgate ou encante…
E pedes-me que cante?...

                          
                            14

Dói-me o cansaço deste povo
vivendo em permanente agitação,
sem tempo para orar,
sem tempo para pensar,
sem reparar no irmão caído ao seu lado
sem ninguém que o levante…
E pedes-me que cante?...

                           15

Dói-me o silêncio triste do irmão deprimido
e o silêncio ferido do que é oprimido;
do que não tem voz ou não se atreve a usá-la,
e permanece anónimo, sem representante…
E pedes-me que cante?...


                                                       Maria Teresa Maia Gonzalez

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Salmo para o Século XXI ( a partir da reflexão sobre o Salmo 137)


                       6

Doem-me os dias cheios de promessas
neste mundo às avessas.
Dói-me a publicidade e seus alvos primordiais.
Nas montras dos centros comerciais
Acenam-nos com enganos
que nos tornam cada vez menos humanos,
cada vez mais dependentes de coisas materiais,
numa alienação inquietante!
E pedes-me que cante?...

                      7

Doem-me os refrões de ilusória liberdade,
frases inflamadas de protesto,
gritos  e sirenes a tocar
que escutamos nas praças da cidade.
Doem-me os discursos e cartazes
a anunciar em quem devo e não devo votar,
e os slogans de manipular, fáceis de decorar,
sementes de uma raiva alarmante…
E Tu pedes-me que cante?

                     8

Doem-me os jovens a quem ninguém fala de Ti
e seguem, sem rumo, vida abaixo,
atrás de coisas de aspecto atraente
que a cidade coloca ao seu dispor;
seguem ao sabor de ventos e marés,
atrás da lua,
como um navio errante…
E Tu pedes-me que cante?...

                     9

Doem-me os vendedores de armas,
geradores de perigos incontáveis;
doem-me os traficantes de pessoas,
com seus negócios sempre abomináveis.
Doem-me os passadores de droga
com os seus poderes alucinantes…
E Tu pedes-me que cante?!

                      10

Dói-me a maré vaza nos olhos dos idosos sem ninguém,
sozinhos, à procura de um gesto que não vem;
 ilhas rejeitadas,
à margem do reino do lucro e do progresso;
a voz sem som, passo hesitante
de quem teme não chegar um passo mais adiante…
E Tu, Tu pedes-me que cante?...


                                                  Maria Teresa Maia Gonzalez
                        

terça-feira, 9 de abril de 2013

Salmo para o Século XXI ( a partir da reflexão sobre o Salmo 137)



Cantarei, Senhor! Cantarei, Senhor!
Eu só encontro a Paz e a Alegria bem junto de Ti!         

                              1
Senhor, dói-me a alma de tanto desconcerto
nesta Babilónia ferida, em cada dia,
a golpes de ódio e de indiferença
que faz de cada irmão um ser distante.
E Tu pedes-me que… cante?!

                              2
                             
Trago o olhar dilacerado
de ver a vida sem licença para viver,
desfeita  ainda antes de nascer,
sem tempo sequer para respirar!
Dói-me cada vida destruída
que em cada um de nós deixa uma ferida…
E Tu vens pedir-me para cantar?!

                             3
                            
Dói-me o coração do meu irmão
a quem o mundo chama deficiente
a quem o mundo não quer dar a mão
e obriga a mendigar pelas ruas e ruelas,
mostrando as mazelas e a humilhação,
esperando cativar um caminhante…
E Tu, Tu pedes-me que cante?...

                            4

Dói-me cada menino maltratado
explorado, negligenciado,
forçado a trabalhar, sem tempo para brincar,
sem direito a sorrir e a ser amado,
sem direito a falar e a ser escutado,
por não ser considerado importante…
E Tu, Senhor, Tu pedes-me que cante?!

                            5

Dói-me, o ruído absurdo desta Babilónia
onde a mentira pesa mais que a verdade,
e se nos cola à pele um denso nevoeiro
que é o bafo dos que tudo fazem por dinheiro
e esmagam quem segue mais adiante…
E pedes-me que cante?...



                                         Maria Teresa Maia Gonzalez

Va, pensiero, sull'ali dorate - Coro da Metropolitan Ópera House de NovaYork